O Autor Raul Minh’Alma é dos escritores nacionais mais falados da atualidade bem como de maior êxito.
É vergonhoso dizer que eu ainda não tinha lido nenhum livro dele, talvez porque o preconceito que tinha face ao estilo de livro me afastasse da leitura.
Sim sou a típica preconceituosa de romances melosos e quando ouvia falar nos livros dele bem como o fato de o público-alvo mais atingido serem mulheres associava os livros a essa realidade.
Sempre tive curiosidade por temáticas relacionadas com saúde mental por isso decidi aventurar-me no livro “Durante a Queda Aprendi a Voar” da sua autoria e não há palavras para descrever essa descoberta porque este livro faz-nos sentir um misto de emoções!
Este livro não é apenas um romance, é uma história bem estruturada em que nada foi feito por acaso.
As personagens, o enredo, o final simplesmente impressionante que nos leva a questionar o que nos rodeia. Se queres um livro que te faz refletir este é o indicado para ti.
Resenha:
A história começa com uma revelação. Fernando, pai de Teresa, confessa a filha ter uma depressão.
Teresa não entende o que o pai está a sentir! “como é isso possível, pai?, o que é que te aconteceu que eu não sei?, “tens um trabalho que gostas, tens uma casa que gosta, tens amigos que gostas, tens-me a mim! Eu pensei que estava tudo bem contigo. Tu estás sempre tão bem-disposto e és das pessoas mais resilientes que conheço”.
“O meu caso não é considerado grave. A Filomena passou-me uns comprimidos e disse para eu fazer psicoterapia e terapia de grupo. Depois perguntou-me quem era a pessoa mais próxima de mim, pois iria precisar dela.” “Às vezes, as pessoas têm uma vida que parece de sonho e simplesmente não se sentem felizes. Contudo, acredito que seja uma fase e que em breve me sentirei melhor”. Respondeu-lhe Fernando.
Assim a missão de Teresa será acompanhar o pai as terapias para que este saia da depressão.
Nisto ela encontrará no seu percurso várias pessoas, várias formas de viver que a irão surpreender e inspirar.
Esta é uma história cheia de amor genuíno, uma história de coragem. Nesta história existem pessoas de “mundos diferentes”, fragilizados com os seus traumas e vivências, que se aliam por um objetivo comum, o bem-estar. Mostra como pequenas ações podem mudar a vida e e serem revolucionárias.
Personagens marcantes que nos tocam como o Alfredo, a Teresa, o Duarte, o Gui e todas as outras personagens que nos mostram que para sermos felizes temos que cortar os padrões que interiorizamos desde crianças que não são nossos e nos impedem de viver a nossa vida à nossa maneira, ou então que tal aprender a viver com as nossas cicatrizes e traumas de guerra? Quem disse que era fácil? Pode não ser fácil mas é possível.
Excertos do Livro:
Não te ia discriminar se fosses tu quem precisa de ajuda. Aqui não existe preconceito. Somos todos iguais. Todos loucos, mas cada um a viver a sua realidade
O bom de bater no fundo é que podemos dar um impulso e voltar a subir.
-Posso perguntar-te umas coisas sobre o que estás a sentir?...Aquilo que sentes é tipo...uma desmotivação constante, como se não tivesses vontade de fazer mais nada? Nem mesmo aquelas coisas que imaginas que seriam divertidas e interessantes?
Se não te apetece sair nem fazer nada, tens que fazer o oposto, senão vais continuar em baixo e se te renderes vai ser pior.
Atraímos para a vida aquilo que não queremos ou que tememos. Dizem que o universo não entende a palavra “não”.
Eu não sou desses médicos que parecem sócios de alguma farmacêutica, por isso a medicação que lhe passei é a mínima possível, O Fernando não ficou assim por ter comido alguma coisa estragada, não ficou assim por ter apanhado frio, ou um vírus, ou por ter sido agredido fisicamente. O que quero dizer é que não foi nenhuma entidade física externa para o deixar bem. Ora, se a sua mente produz veneno, ela também é capaz de produzir o próprio remédio.
De pouco vale a terapia de grupo, a psicoterapia e os comprimidos se não mudar o estilo de vida e se não estender este tratamento até ao dia a dia lá de casa.
É comum e normal os familiares de uma pessoa que está a passar por uma depressão, ou qualquer fase negativa, sentirem-se perdidos e não saberem o que fazer ou o que dizer. Depois proferem frases como anima-te ou há pessoas piores que tu, que são naturalmente ditas com a melhor das intenções, mas que têm efeito contrario.
Tu não mudaste tu revelaste-te. É diferente. Mas não te sintas mal por teres sido outra pessoa que não tu própria. Foram apenas consequência da vida que não conseguiste evitar.
Talvez devas começar responder primeiro a outras questões como: quem é que tu não és? Quem é que tu não queres ser?. Seja como for não te preocupes. Estás no caminho certo, mais tarde ou mais cedo hás de lá chegar.
Foram acontecimentos negativos, mas o que nos define não é aquilo que nos acontece, mas como reagimos a isso.
São as tua preocupações e não dá para as comparar com as preocupações do outros. Tens direito a sofrer com elas da forma que fizer sentido para ti.
Às vezes só precisamos de alguém que nos oiça e não nos julgue. E também quando partilhamos as nossas dores e preocupações elas ficam um pouco mais pequenas e suportáveis.
No fundo eu esvaziei-me da minha identidade e essência para que os outros me enchessem com aquilo que achavam que era o melhor para mim, passando a viver em função deles e para corresponder às expetativas deles. E daí resultou uma série de eventos negativos. Mas esta fase da minha vida permitiu-me abrir os olhos e expandir a consciência. Por isso, sim há males que vem por bem. Hoje percebo qual o meu propósito e qual o propósito de tudo aquilo que me acontecia. Tinha de haver uma causa, que era, naturalmente, a minha falta de amor-próprio e tinha de haver uma consequência. E eu escolhi que a a consequência seria a minha evolução e não a minha destruição. Uma evolução que resultou desta necessidade de buscar respostas e soluções para voltar a encher-me de mim mesma. Para me reconstruir e reerguer ainda mais forte. E posso dizer que tem sido uma viagem maravilhosa.
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